Para ser sincera, não escrevo aqui há montes de tempo porque não me tem apetecido. E até que aconteceram muitas coisas. E não é que me tenha apetecido escrever agora, mas já era altura de o fazer. E, soa-me a testamento.
*vendo o último dia que escrevi para me poder situar e atualizar os acontecimentos*
*esqueci-me do url do blogue, omg a memória está mesmo má*
Então, no dia 18 (quinta-feira) eu e a M. acabámos. Porque sim, porque foi o melhor. Lembro-me que as coisas até tinham estado bem, até à hora de almoço. Ela começou a dizer que eu estava distante e afastada dela e que parecia que já não gostava dela e não desistiu até eu dar a entender que já não sabia o que queria. Chorei bué, mas entretanto tivemos que ir para a aula. No intervalo ela falou comigo, disse-me que a culpa não era minha, que íamos continuar amigas, que eu não ia ficar sozinha e que estava tudo bem e essas tretas todas. Mas eu fui para casa, e não conseguia parar de chorar, porque eu não sabia mesmo o que queria e talvez não fosse aquilo que eu quisesse, então entrei num colapso mental. Tomei uns comprimidos da minha mãe porque queria dormir e ficar mais calma, descansar. Não pensei que aquilo me fosse fazer algum mal, até porque já tinha tomado mais numa outra vez e só tinha dormido. Mesmo assim, fiquei arrependida, mas já não havia nada a fazer. Ainda tentei vomitar mas o mal já estava feito, vieram as tonturas e a noção foi-se. Parti um copo, a minha mãe apareceu, percebeu que eu estava drogada, ligou ao meu pai, levou-me para o hospital. Do Montijo levaram-me para o Barreiro (amarrada porque eu não conseguia estar quieta) e lá fizeram-me uma lavagem ao estômago. Fiquei no S.O. (sala de observações onde o internamento é sempre de curta
duração, sendo o doente posteriormente transferido para outros serviços
de internamento ou para o domicílio) até à tarde ligada a máquinas e a soro com um cateter em cada mão, e foi aí que me contaram tudo o que tinha acontecido porque eu não me lembrava de praticamente nada. E até aí, eu achava que as pessoas acordarem e perguntarem "Onde é que eu estou?" só acontecia nos filmes. Apenas me lembrava de ter partido o copo, de não conseguir estar quieta e que alguém me estava a tapar a entrada da porta e não me deixava ir à casa de banho. E depois lembrava-me de ter alguém a agarrar-me as mãos, de ter uma coisa qualquer enfiada no nariz que doía, de me espetarem alguma coisa na mão, de me querer levantar e não me deixarem, e pouco mais. Então depois foi a minha mãe que me contou tudo o que se passou. Que me levou para o Montijo e que eu não dizia coisa com coisa, que desmaiei no carro umas duas vezes, que ligou para montes de gente para saber o que tinha acontecido porque não sabia o que se passava comigo, que me fizeram análises e um eletrocardiograma no hospital do Montijo, que me levaram numa ambulância amarrada com uma médica e uma enfermeira para o hospital do Barreiro e que lá me fizeram uma lavagem ao estômago e me deram carvão vegetal (a tal coisa no nariz que era um tubo enorme) para desintoxicar, e que tinha entrado em taquicardia, daí estar ligada às máquinas e no S.O.. Ah, e também me contaram que, para além de irrequieta, estava super agressiva e que dei pontapés às enfermeiras e que mordi um enfermeiro. Claramente, não estava mesmo em mim. Mas nunca pensei que pudesse ser assim tão grave. Fui consultada por uma psiquiatra que falou comigo e posteriormente com a minha mãe mas comigo a ouvir, e que me receitou uns anti-depressivos que hei-de falar mais à frente. À tarde fui para o internamento normal. A minha irmã trouxe-me o meu telemóvel, que por acaso eu estava desesperada por ter nas mãos, e fiquei a saber que tinha ligado à M. e que ela tinha ouvido tudo até eu ir para o hospital.. E como ela era a única pessoa que eu tinha contado o que tinha feito quando ainda estava sóbria, foi ela que contou à minha irmã o que se tinha passado, depois de elas já terem falado com montes de pessoas. Ela ainda pensou em ligar à minha mãe depois de ter ouvido a conversa toda mas arrependeu-se porque achava que a iam culpar. Ela própria se achava culpada, e achava que eu me tinha querido matar, como toda a gente que sabe do que aconteceu ainda acha. Depois a minha irmã passou lá a noite comigo, levou o computador dela e passei lá mais aquela noite. Primeiro, tinham dito que podia sair na sexta-feira por volta das 21h. Depois já disseram que só fazia 24h da lavagem ao estômago à meia-noite, logo tinha de ficar lá até sábado de manhã e teria alta de manhã. Tomei banho (quase com água fria), passou-se o pequeno-almoço, passou-se o almoço e nada. Até que a minha mãe foi lá abaixo falar com as médicas que estavam a atender as urgências. Passado um bocado foi lá uma pediatra falar com a minha mãe e disse-lhe que eu tinha que ficar até segunda-feira para ser vista pela psicóloga porque era um caso grave e não era para brincadeiras. Os meus pais quiseram logo assinar um termo de responsabilidade e levar-me para casa, mas eu não queria ir. Tinha medo de ir para casa e piorar da cabecinha. Então comecei a chorar, a minha mãe ligou ao meu pai e pediu-lhe para voltar para trás que eu ia lá ficar. Entretanto a minha irmã foi lá e convenceu-me a sair do hospital e a ir para casa dela. E assim foi. Fiquei até segunda em casa dela, e segunda fui para casa (apesar de eu ainda não querer ir) porque no dia a seguir já tinha que ir para a escola. Até correu melhor do que estava à espera, as pessoas só sabiam que eu tinha estado doente, e eu só lhes disse que tinha sido uma amigdalite, o que até calhou bem porque estava constipada. E as coisas estavam ótimas, os meus pais estavam bem comigo, a M. também e o resto das pessoas também. E tinha toda a atenção do mundo, o que eu sempre quis e continuo a querer. Mas, os tais comprimidos, que a psiquiatra me receitou e que ao início não era para tomar (porque ninguém estava de acordo, nem mesmo eu) mas no hospital quiseram que eu começasse logo a tomar, começaram-se a fazer notar. Ficava tonta, o meu coração estava super acelerado e eu tremia por todos os lados. Então deixei de os tomar na terça feira à noite (o último que tomei já foi só metade). E pronto, sexta-feira acordei rabugenta, triste, irritada, sem paciência, com pensamentos parvos e não estava bem em lado nenhum. Resultado: chateei-me com a M., e ia tendo outro colapso pois não conseguia parar de chorar mesmo sabendo que já estava tudo bem, mas acabei por me controlar e não fiz nenhuma asneira. É que ela reclamou que eu não lhe dei atenção e que estava super magoada, mas depois no final fomos verificar e quem não tinha dado atenção tinha sido ela a mim. E o que é feito de mim sem atenção, não é? E depois as coisas com os meus pais também ficaram mal, então tomei um comprimido daqueles que era para tomar à noite para conseguir dormir. E resultou. Hoje fui almoçar a casa da I. e ainda bem, porque a minha mãe está insuportável porque eles estão chateados, e eu não teria conseguido aturá-la. Só cheguei à pouco mais de 1h e vim contar as novidades..
Amanhã queria ir ao fórum comprar blusinhas de inverno, mas ela não quer ir. Então vou esperar pelo próximo fim-de-semana, em que supostamente vou para casa da minha irmã e peço-lhe a ela. E agora devo ir dormir porque hoje o dia voltou a correr bem. Ou seja, os comprimidos que a psiquiatra me receitou fazem-me mal se os tomar, e fazem-me mal se deixo de os tomar. Ah, e estou à espera de uma consulta de psicologia e outra de pedopsiquiatria.. É, sou maluquinha agora.
"Sabem aquela sensação de quando nos começamos a cortar e sempre que acontece uma m*rda qualquer pensamos logo em voltar a fazê-lo? Com os comprimidos é igual, a única diferença é que a gravidade das consequências é maior e acabamos por pensar duas vezes antes de o voltar a fazer."
Mas sinceramente, se eu me quisesse matar não tinha tomado apenas quatro comprimidos quando havia mais umas dez carteiras e cada uma com mais uns dez comprimidos só naquela gaveta, mais uns cem do meu pai nos armários dele, e mais uns quantos fortes na minha gaveta do quarto.
Mas a atenção que recebi... valeu por tudo.
E se o tempo voltasse atrás? Voltava a fazer tudo outra vez.
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